saraus do rebanho

Os saraus do rebanho representaram durante os anos de 2000 a 2002 um evento importante na cidade de Salvador, que reunia num mesmo palco, diversas atrações culturais.

Idealizado a partir de uma experiência similar realizada em São Paulo, os chamados Saraus dos Charles, promovidos pela dupla de palhaços Charles e Charles, vividos pelos atores Alessandro Azevedo e Klerouak, o I Sarau do rebanho, intitulado de Sarau da Bandoleira foi um sucesso absoluto.

Mediado pela personagem Maria Quitéria, vivida pela atriz Adriana Amorim, o Sarau revezava no palco uma série de atrações de diversas linguagens com duração breve de 3 a 10 minutos cuja característica mais marcante era a improvisação e o jogo de cena com a plateia.

Paralelos ao palco funcionavam dois espaços alternativos: o Inferninho, onde os convidados suavam ao som das músicas do momento. O espaço era decorado de acordo com o tema, com luz vermelha e baixa, com uma pobre TV que revezava imagens de filmes 'sensuais'. Também funcionava o bar, onde eram vendidas bebidas e oferecido um som mais leve do que no inferninho e onde o público pudesse bater um papo e paquerar à vontade.

A cada sessão de palco, o som do bar e o inferninho cessavam e o público ia sendo conduzido pela mestre de cerimônia que, sem cerimônia, botava os inconvenientes para fora, caso percebesse o desinteresse do público pela sua apresentação. Sempre com o consentimento do público que se manifestava com aplausos pela intervenção.

E quanto maiores eram os intervalos do palco com idas ao bar e ao inferninho, mas bêbada a plateia ficava e mais atrações enlouquecidas subiam ao palco. Para garantir as primeiras apresentações (com o espectador ainda sóbrio e com pouca coragem de subir ao palco) o rebanho de atores convidava artistas para apresentar seus trabalhos já ensaiados.

Assim, fizeram parte das 6 edições do Sarau, como convidados, muitos artistas e colegas, entre os quais podemos citar:

Banda Zacatimuba - com a cantora Juliana Ribeiro
Os Donzelos Anônimos - grupo cênico musical que agitou a cena soteropolitana nos primeiros anos do século
Aroldo Fernandes - dançarino e coreógrafo que apresentava entre outros trabalhos o seu personagem Alec.
Os autores Adelice Souza, Jean Wyllys e Marcus Vinícius, então vencedores do Prêmio Braskem de Literatura que participaram de um bate-papo com Maria Quitéria.
Ana Magda Carvalho - tocando e cantando

Nas edições seguintes ao Sarau da Bandoleira, outros mestres de cerimônia foram experimentados. Adriana Amorim encarnou o vagabundo Carlitos, de Charles Chaplin, mas esbarrou no problema ético de ter que dar-lhe voz, o que a fez retornar para o personagem Maria Quitéria que ficou definitivamente como apresentadora, sendo acompanhada nas últimas 4 edições pelo personagem de Alam Félix, Tôin da Gachileba.

O interessante deste evento é que era completamente idealizado, planejado, produzido e executado pelo casal de atores. Sem nenhum recurso financeiro, sem nenhum apoio ou patrocínio, jovens que eram, pegavam os escassos recursos que possuíam e investiam no evento. Compravam as bebidas no cartão de crédito, pegavam o palco de madeira emprestado do cenógrafo Maurício Pedrosa, carregavam as cadeiras do restaurante universitário até o local do evento - Residência Universitária II no Largo da Vitória, desenhavam à mão os cartazes e as filipetas. Limpavam o espaço antes e depois do evento. Conduziam o palco e o bar. Alguns amigos ajudavam, como Jean Wyllys, muito antes de ficar famoso, bancando o DJ do Inferninho. Carla Meira ajudou no registro em vídeo, com equipamento emprestado pela TV UFBA. Com o tempo o aparelho 3 em 1 da Sony não deu conta do movimento e tiveram que investir em aluguel de som. Com o trabalho insuportável de carregar cadeiras, tiveram que alugar cadeiras de eventos. Mais adiante tiveram que contar com apoio dos colegas para conduzir o bar o que resultou em prejuízo financeiro... Coisas de quem quer fazer a qualquer custo aquela arte que arde em seu peito (que brega isso ficou!!!), mas era bem isso.

O Sarau foi interrompido em sua sexta edição, realizada já com a atriz Adriana Amorim grávida de 6 meses de seu parceiro de palco, vida e loucura. Depois do nascimento de João Vicente, o grupo dedicou-se à produção do espetáculo Os Ovos de Militão, projeto idealizado no período do Sarau, que deve sua origem mesmo à tentativa de arrecadar fundos para montar o texto de Altimar Pimentel, Lampião Vai ao Inferno Buscar Maria Bonita, espetáculo que o grupo ainda não realizou e tem como dívida ao autor que tornou-se amigo do grupo mas que faleceu sem receber esta merecida homenagem. Montaremos um dia, amigo.

Confira algumas imagens das 6 Edições do Sarau do Rebanho:


Filipetas para o 1º Sarau do rebanho: reproduzidas com xerox preto-e-branco em papel ofício colorido




O cartaz do segundo sarau teve a citação das obras: O Pagador de Promessas, Casablanca, Cinema Paradiso, Corra Lola, Corra e Central do Brasil. Arte de Alam Félix.


TO BE CONTINUED...